Por Vania Pacheco
No post anterior, contei um pouco sobre como surgiu a vontade de viajar e relatei minha
estadia trabalhando como au pair nos Estados Unidos até chegar em Aldergrove, em British
Columbia, Canadá.
Depois do tempo em Aldergrove, vi uma oferta de trabalho em Vancouver e li por curiosidade
para indicar a uma amiga. Acabei gostando da oferta e apliquei para a vaga. Deu certo,
entreguei minha notice e demos entrada na LMO para eu pedir um novo work permit. Nesse
meio tempo, fui passar merecidas férias com minha família de Rhode Island, curtindo um
verão de verdade e encarando até o furacão Irene. Voltei para Vancouver e terminei meu
programa de caregiver com essa família. Apliquei para a tão batalhada e esperada residência
permanente e recebi meu open work permit. O processo de residência, que demorava, em
média, oito meses, agora está levando anos, mas pelo menos o governo nos dá o open work
permit, possibilitando sair da vida de caregiver e trabalhar em outra área. Hoje trabalho na área
de contabilidade, estou estudando para conseguir a designação de contadora, o que vai ser
um longo e difícil caminho, mas dificuldade nunca foi empecilho quando se tem um objetivo em
mente, só nos faz dar mais valor à cada conquista.
Se me perguntarem se recomendo o live in caregiver, minha pergunta vai ser: você tem outra
opção? Se tiver outra opção, venha por ela. Só use o live in se for a única maneira, o que era
meu caso. Não é fácil morar na casa dos outros por mais de dois anos, ainda mais quando se
morava sozinha antes. E isso porque eu tive ótimos empregadores! Paciência é palavra-chave
para esse programa!
Meu sentimento em relação ao Canadá é que, aqui, por ser um país formado por imigrantes em
sua maioria, as oportunidades de sucesso são maiores. A diversidade cultural é muito grande!
Para se ter ideia, no meu trabalho há um iraniano, um indiano, um ucraniano, um canadense,
um italiano e a brasileira que vos escreve, que entrou para substituir um chinês de volta a Hong
Kong. Sinto que aqui eu posso conseguir vitórias através do meu trabalho, sem pessoas me
julgando como uma imigrante do terceiro mundo. Claro que gente ignorante existe em todos os
cantos, mas comparando minha experiência nos EUA e no Canadá, sem dúvida me sinto muito
mais em casa aqui.
Sobre Vancouver, foi amor à primeira vista, quando estava no avião, em 2007. Lembro que
comentei com meu amigo que moraria facilmente aqui! Encarei dias de chuva, sol e neve, a
mãe natureza me presenteou com um pouquinho de cada em minha estadia como turista. E
agora, como moradora, só tenho a dizer que eu estava certa! Só troco Vancouver por uma
oportunidade muito boa de trabalho.
Vancouver é uma cidade cara para se morar, sim, mas amo ter as montanhas e o mar como
quintal, ter um inverno ameno, apesar da chuva, chuva alias que não me atrapalha em nada e
que deixa tudo verdinho! Ok, eu confesso que acabo tomando vitamina D, mas e daí? Tenho
Stanley Park, Wreck Beach, as montanhas da North Shore, Steveston, Squamish, Whistler,
tudo pertinho! Apaixonei-me por yoga e hockey (Go, Canucks!!!), hiking é minha terapia para
fugir do caos urbano, adotei snowshoeing como esporte de inverno (coordenação motora zero
para esquiar, já tentei mais de uma vez!) e adoro me gabar das belezas daqui para amigos de
outros locais. Porque sim, moro em Beautiful British Columbia e sou feliz por isso.
Claro que não é fácil estar longe da família. Sinto falta deles todos os dias, apesar de nos
falarmos sempre, e o coração sempre aperta quando acontece algo, ruim ou bom, e eu não
estou por perto. Esta é, sem dúvida, a parte que mais pesa, e quando acontece algo e quero
abraçar minha mãe, não é possível. Já choramos muito por telefone. Grande parte de minha
força em aguentar a distância vem dela, que sempre me diz que prefere me ver longe e feliz
do que perto e frustrada. Seria tão bom se pudéssemos ter tudo, mas como diz um ditado aqui
“you can’t have it both ways!”. Escolhas são difíceis de fato e sou grata por minha família me
apoiar. A distância física é grande, mas o amor que temos é maior!
Também sinto falta das delícias que temos, mas não morro porque não acho cupuaçu,
jabuticaba ou pizza de frango com catupiry. Como sei cozinhar bem, sem querer me gabar,
nunca falta um arroz com feijão, mousse de maracujá, torta, qualquer coisa gostosa para comer
na minha casa. A gente aprende a adaptar com o que tem disponível e conhece coisas novas
também… (Damn you, poutine, por que você tem que ser tão bom?)
Estar aqui foi uma escolha consciente. E que venha a contagem de tempo para a cidadania,
porque nasci brasileira, mas serei canadense no papel por escolha, porque de coração, já me
sinto uma canuck, e totalmente Vancouverite!