Por Vania Pacheco
Sempre gostei de viajar. Desde a adolescência trabalhava e já tinha meu próprio dinheiro, que era na maior parte destinado à viagens de final de semana para Penedo, Paraty, Rio de Janeiro, Ubatuba, Campos do Jordão, Angra dos Reis… Nada muito longe da minha pacata cidade natal no Vale do Paraíba, perto de São Jose dos Campos. Sempre sonhei com lugares mais distantes, portanto, fazer um curso no exterior era um caminho natural. Mas com que dinheiro, ganhando-se pouco no Brasil?
Em 1998 resolvi que seria possível passar um mês estudando em San Diego. O dólar estava estabilizado, eu tinha uma renda fixa, daria para conciliar com as férias. Imprevistos, no entanto acontecem e, na época, o dólar disparou e eu tive que adiar os planos. O meu espírito “wanderlust” ficou meio adormecido quando entrei na universidade e me graduei em Letras – Português/Inglês, porque não tinha tempo e dinheiro sobrando para viagens. Lecionei algum tempo, mudei-me para o interiorzão do Brasil… Detestei morar em uma cidade que sequer tinha cinema e pensei: é agora ou nunca! Ou eu viajo para o exterior agora, ou não acontece mais.
Pesquisando todas as formas possíveis de se passar uma temporada no exterior, conheci o programa Au Pair, no qual você cuida das crianças de uma família e recebe uma quantia semanal, além de te darem uma certa quantia para cumprir seis créditos em uma faculdade ou universidade. Eu estava na idade limite de 26 anos, tinha a expêriencia necessária por ter feito muitos babysits para os vizinhos e por ter lecionado para adolescentes. Inscrição feita e, pouco tempo depois, eu estava a caminho de Old Greenwich, em Connecticut, uma cidade nos subúrbios de New York. Ser babá nunca foi minha profissão dos sonhos, mas sim um meio de se conseguir viajar de maneira barata, legal e ainda ganhando uns trocados. Claro que gostar de criança era parte fundamental, pois era o foco do trabalho.
Meu inglês já era razoavelmente bom, por isso aceitei trabalhar para uma família de brasileiros, com meus três americaninhos de sotaque carioca. Praticava o inglês no meu tempo livre, na universidade ou saindo com os amigos de diversas nacionalidades. Namorar um americano também ajudou demais a vivenciar os costumes locais, aprender sobre futebol americano, baseball e gírias. O programa era de um ano, mas minha expêriencia foi tão boa, que resolvi renovar por mais um (o prazo máximo de permanência no programa são dois anos). Continuei na mesma região, mas depois tive que trocar de família e fui morar em Newport, Rhode Island, cidade mais ou menos a uma hora e meia ao sul de Boston. Foi o local onde mais me identifiquei! Apesar de amar Vancouver, vez ou outra me pego com saudades de lá.
Minha experiência como au pair foi fantástica. Tive oportunidade de conhecer diversos lugares, viajei muito pelos EUA, conheci pessoas maravilhosas, muitas das quais mantenho contato ate hoje. Para se ter ideia, visito “minhas famílias” todos os anos! Morar dois anos fora me fez pensar em muita coisa relacionada ao Brasil. A diferença do poder aquisitivo, a segurança que eu sentia, a educação das pessoas, todos esses fatores contribuíram na minha decisão de não morar mais no Brasil. Mas como?
Nos EUA eu não poderia ficar legalmente, a menos que eu casasse com meu namorado, o que definitivamente não estava em nossos planos. Comecei a pesquisar todas as possibilidades e descobri o Live in Caregiver, programa criado pelo governo canadense para suprir a falta de profissionais que desejam residir na casa do empregador e cuidar de crianças, idosos ou pessoas portadoras de deficiência. O atrativo para mim foi a possibilidade de se aplicar para residência permanente após dois anos de trabalho. A experiência necessária eu já tinha, graças ao programa Au Pair, então foi um caminho natural. Retornei ao Brasil para rever minha família e investi em encontrar famílias no Canadá.
Minha busca por emprego resultou em propostas absurdas, muitas famílias querendo que eu viesse como turista e trabalhasse de maneira ilegal, ganhando míseros CAD500 por mês, e ainda achavam que estavam me fazendo um favor. Porém, existem famílias que conhecem o programa e fazem tudo de acordo com as regras. Durante meu período nos EUA, eu já tinha visitado o Canadá, fui a Toronto e Vancouver, no inverno, então eu sabia o que esperar. Meu foco estava em famílias da área de Toronto, pois tenho parentes por lá e ficaria fácil para visitar meus amigos no eixo Boston-New York.
Entretanto, o destino quis me trazer para British Columbia! Uma família de Aldergrove me contatou, conversamos e achei que seríamos um bom match. Eu já conhecia Vancouver, pesquisei sobre Aldergrove, que parecia um meio do nada (e de fato é!), mas encarei o desafio.
Dei a entrada no processo e pouco depois de um mês, meu visto foi aprovado. Embarquei na minha aventura canadense dia 18 de Janeiro de 2010, com duas malas, uma mochila, uma cabeça cheia de objetivos e um coração apertado em deixar minha família para trás mais uma vez.
Morei um ano e meio em Aldergrove, em uma fazenda, onde eu tinha que andar 40 minutos até o ponto de ônibus mais próximo, encarar 1h de ônibus mais 45 minutos de skytrain até Vancouver. Muitos finais de semana acordei às 5h da manhã para ir às aulas de educação contínua, pois eu não queria esperar até terminar o programa para me preparar para o mercado de trabalho canadense. Me voluntariei para empresas nas quais acredito nas causas e que também contribuíram para meu currículo. Comprei meu próprio carro quando chegou o outono, pois ninguém merece andar na chuva por 40 minutos, e continuei minha saga de passar os finais de semana em Vancouver, dessa vez motorizada.
No próximo post, contarei um pouco mais sobre como foi o meu primeiro contato com Vancouver e minha paixão à primeira vista pela cidade.